Poemas 4º Festival Internacional de Poesia “Grito de Mulher” 2014 em Lisboa, Portugal
Poemas 4º Festival Internacional de Poesia “Grito de Mulher” 2014 em Lisboa, Portugal, coordinado por Delmar Maia Gonçalves de Círculo de Escritores
Moçambicanos na Diáspora (CEMDIASP)
Delmar Maia Gonçalves
MULHER AFRICANA
Tu Mulher,
Que no teu ventre
Criaste vida
Tu mulher, que
sofreste
Que não viveste
Que foste humilhada
Não deixes que te
apontem
Olha no espelho
E sorri!
Para essa vida que
é parte de ti!
Adina Worcman
Mulher Guerreira
Símbolo de uma nova era ,
em que nós mulheres,
sem perdermos a nossa feminilidade,
mostramos ao mundo, toda a força, a energia,
sensibilidade, benevolência e garra,
que nos impulsiona a seguir em frente,
defrontando-se a cada dia com novos desafios.
Seja na educação, na gerência ou
na direção de novos empreendimentos,
mostramos ser capazes e, acima de tudo,
prestando um grande ¨serviço¨(Mitzvá) a todos ,
que necessitam de um apoio e de uma palavra amiga,
em distinção de raça, credo e cor.
Mulher Guerreira
Símbolo de uma nova era ,
em que nós mulheres,
sem perdermos a nossa feminilidade,
mostramos ao mundo, toda a força, a energia,
sensibilidade, benevolência e garra,
que nos impulsiona a seguir em frente,
defrontando-se a cada dia com novos desafios.
Seja na educação, na gerência ou
na direção de novos empreendimentos,
mostramos ser capazes e, acima de tudo,
prestando um grande ¨serviço¨(Mitzvá) a todos ,
que necessitam de um apoio e de uma palavra amiga,
em distinção de raça, credo e cor.
Ana Dias
GRITO DE MULHER – I
Sofrida, dorida, perdi o Norte
Mesmo que me soves de morte
Não me
calo, não aguento
Não és tu que me dás o sustento
Sou eu que luto pela minha vida
Vai, sai, parte: não há guarida!
No amor que dizes que me tens
Nem o inferno, ao diabo o pintam!
Judas vendeu Jesus por três vinténs.
Tu massacras até mais não.
Vai, antes que a fúria desponte
E eu não saiba se te ignore ou afronte.
Por uma aberração sem limites,
Não mereço grades, nem grilhões,
Mesmo que apeles e cites
Amor, compaixão, tesões.
Meu corpo cansou de tantas surras:
Sou já uma sombra nas tuas saburras!
Ana Mafalda Leite
Corpos lúcidos e
opacos
o amor é
um corpo lúcido centro de imensas esferas de luz que se propagam em
todas as direcções
quando a luz encontra um corpo opaco é por ele reflectida nos nossos
olhos e excita em nós a ideia desse corpo formando-nos a sua pintura na retina
a imagem do amor
os corpos lúcidos não tem sombra alguma de si mesmos
são centros absolutos de luz própria que deles parte
o amor é fogo que
arde
os corpos opacos são centros parciais de uma luz precária
reflectem só uma parte da sua
massa
proporcional à incidência dos raios
ficando a outra parte obscurecida na sua sombra
que arde sem se ver
Catarina Castro
Vontade de ser
desassossego
Hoje quero ser a mulher que te agita, a brisa que baloiça as folhas do
teu plátano ser; o crepitar incessante em teu coração, as vagas do mar a bater
de encontro ao teu corpo ardente, a lufada de ar que te aquece e fustiga para depois
acalmar... mas não já.
Hoje quero ser a mulher que te agita e te desassossega com a sua atitude
de amadora. Depois de receberes a palavra, o teu corpo, o teu espírito, o teu
pensar junto comigo despertam, reanimam, e eu, porque também sou amada suavemente
admiro a várzea do teu olhar. Aquela a que me entreguei sem reservas, solta,
leve, despida.
Dinorá Couto Cançado
Admiráveis mulheres
Mulheres guerreiras em quaisquer lugares
Não se esmorecem dentro de seus lares.
As mulheres do Brasil sempre me inspiram
Debatem o Festival Grito de Mulher e criam.
Assistentes, professoras, não importa a função
Foram muitas que poetizaram sua reflexão.
Na sociedade de poetas cegos em Brasília
Com a arte de ler e criar, tudo vira poesia.
Títulos como: A fortaleza da mulher, Estigma da dor
Marcas da Alma, Atitude de guerreira, com louvor.
Anita, Mulher lavadeira do céu, Mulheres feridas
Um mês com produções de mulheres queridas.
Mulher Solitária, Cidade das Mulheres e a Felicidade
Até jovens e adultos homens, não importa a idade
Produziram poemas nesta nova sociedade viva
Violência e Mulher, símbolo da vida.
Dezoito poemas especiais estarão em Lisboa
Uma mostra da arte de ler e criar dessa leoa.
Mesmo que o mundo desabe a guerreira luta
E em forma de poema mostra a sua labuta.
Um viva para as mulheres cegas do Brasil
No Distrito Federal, elas valem por mil
E dão o seu grito com um jeito admirável
Fazendo sua história de forma memorável.
Domingas Monte
Quem me dera ser poetisa
Quem me dera
Ser poetisa
Para poder escrever
Aqueles versos lindos
Carregados de emoção
Loucos de paixão
Arrastando beleza
Driblando a tristeza
Que me fazem sonhar
Dormir ao relento
Tremer de desejo
Ansiar noites
Para conviver com as estrelas
Quem me dera
Ser poetisa
Para falar do fogo
Que arde naquele peito
E se alastra
No meu coração
Fumega dentro de mim
Embebedou todo o meu ser
Com essas chamas
Que não querem cessar
Meu rio secou
Água do kwanza
Não bastou
Nem minhas lágrimas
Até minhas lágrimas
Que flúem do meu rosto
E correm no meu manto
Conseguem extinguir essas chamas
Quem me dera
Ser poetisa
Para poder libertar os gritos
Sufocados dentro de mim
Deixar…
Meu rio correr
Para atravessar esse teu ermo
Maravilha de welwithia
Eu vi
Com aquele cenário bonito
Parecia uma obra d’arte
Daquelas que o artista mor criou
E emoldurou na minha terra
Marcou minha gente
Maravilhou o mundo
Admiráveis mulheres
Mulheres guerreiras em quaisquer lugares
Não se esmorecem dentro de seus lares.
As mulheres do Brasil sempre me inspiram
Debatem o Festival Grito de Mulher e criam.
Assistentes, professoras, não importa a função
Foram muitas que poetizaram sua reflexão.
Na sociedade de poetas cegos em Brasília
Com a arte de ler e criar, tudo vira poesia.
Títulos como: A fortaleza da mulher, Estigma da dor
Marcas da Alma, Atitude de guerreira, com louvor.
Anita, Mulher lavadeira do céu, Mulheres feridas
Um mês com produções de mulheres queridas.
Mulher Solitária, Cidade das Mulheres e a Felicidade
Até jovens e adultos homens, não importa a idade
Produziram poemas nesta nova sociedade viva
Violência e Mulher, símbolo da vida.
Dezoito poemas especiais estarão em Lisboa
Uma mostra da arte de ler e criar dessa leoa.
Mesmo que o mundo desabe a guerreira luta
E em forma de poema mostra a sua labuta.
Um viva para as mulheres cegas do Brasil
No Distrito Federal, elas valem por mil
E dão o seu grito com um jeito admirável
Fazendo sua história de forma memorável.
Domingas Monte
Quem me dera ser poetisa
Quem me dera
Ser poetisa
Para poder escrever
Aqueles versos lindos
Carregados de emoção
Loucos de paixão
Arrastando beleza
Driblando a tristeza
Que me fazem sonhar
Dormir ao relento
Tremer de desejo
Ansiar noites
Para conviver com as estrelas
Quem me dera
Ser poetisa
Para falar do fogo
Que arde naquele peito
E se alastra
No meu coração
Fumega dentro de mim
Embebedou todo o meu ser
Com essas chamas
Que não querem cessar
Meu rio secou
Água do kwanza
Não bastou
Nem minhas lágrimas
Até minhas lágrimas
Que flúem do meu rosto
E correm no meu manto
Conseguem extinguir essas chamas
Quem me dera
Ser poetisa
Para poder libertar os gritos
Sufocados dentro de mim
Deixar…
Meu rio correr
Para atravessar esse teu ermo
Maravilha de welwithia
Eu vi
Com aquele cenário bonito
Parecia uma obra d’arte
Daquelas que o artista mor criou
E emoldurou na minha terra
Marcou minha gente
Maravilhou o mundo
Filipa Vera Jardim
Onde estão?
Onde estão?
Não estão Maria,
Já não estão.
Mas eram tantos...então?
Não, Maria. Não estão.
Não Maria, não eram.
Eram apenas rostos necessários, a colorir a paisagem, da tua condição.
A rir no tempo próprio, do lugar-comum.
Sem distinguirem um abraço, da necessidade de te dizerem: não!
E foram Maria, para outro palco, rir de outras coisas, com outras gentes...
Já não estão.
Mas eram tantos...então?
Não, Maria. Não estão.
Não Maria, não eram.
Eram apenas rostos necessários, a colorir a paisagem, da tua condição.
A rir no tempo próprio, do lugar-comum.
Sem distinguirem um abraço, da necessidade de te dizerem: não!
E foram Maria, para outro palco, rir de outras coisas, com outras gentes...
Quem ficou então?
Os que esperam Maria.
Os que que voltam a esperar Maria.
E depois, corajosamente, ainda te estendem a mão.
São esses que ficam agora Maria,
Como ficavam, então.
Riram-se e calaram-se.
Disseram-te que sim e disseram-te que não.
Zangaram-se.
Mas ficaram Maria...
Pregados de ternura, às tábuas do teu chão.
Na espera do tempo certo, no lugar exacto.
Se chorares Maria, eles chorarão.
Se te mudares Maria eles mudarão.
Se te fores Maria, eles lá estarão.
Quietos, à espera…
À espera Maria, à espera...
E os outros?
Os outros Maria, eram apenas fruto da tua imaginação.
Nunca existiram,
Apenas permaneceram.
E foram-se Maria...
E não voltam, não.
Estão lá longe Maria, no passado que não muda,
Na dobra do presente, que já não te acolhe,
No futuro que não reconhecerás.
Mesmo que amanhã, seja dia de folia...
Eles, lá estarão.
Tu Maria, tu não,
Ficarás aqui, abraçada à tua paisagem.
E eles Maria, eles que esperem…
Por um espelho, uma imagem que seja,
Do teu pleno, coração.
Gisela Ramos Rosa
Para todas as mulheres da Terra
As raízes da Terra dançam como pele
do mundo, elas sobem descem, procriam
são prismas iluminados que desbravam
alimentam conciliam
Elas tocam o chão com os seus pés
de água e não repousam na ambição
do húmus, em seus grãos prosseguem
já os troncos com asas de destino,
altas elevam-se em corpo, tesouro, mistério
As raízes da terra são espelhos de água
que atravessam os rios no seu leito de silêncio
são canoas com jacintos da estação
elas são a alegria côncava do mundo
Gisela Torquato Cosme
VIDA
Seca-se a erva,
Cai a flor
Assim é a vida
Breve
Muito breve.
Pinta o amor
Semeia a dor
É linda como flor:
Passageira e encantadora
Profunda e devastadora
É colorida.
Quando vivida, muito querida
Quando ameaçada
Muito escolhida
Quando sofrida, muito temida.
Seca-se a erva,
Cai a flor
Assim é a vida
Breve
Muito breve.
Goretti Pina
O poema
O pão não
chega para entrar no poema.
O suor do
padeiro não rima com o bolso vazio do povo
que já faz
ilusionismo, malabarismo e omelete sem ovo.
Fica de
fora também a manteiga.
Não cabe no
poema a falta de luz eléctrica
nem a
inércia de gente com responsabilidade.
Consciência
para o poema, por favor!
O poema
também agradece amor!
Coragem
para o poema, já!
A retórica
e outras tangas torram a paciência,
confundem a
hipérbole, matam a metáfora.
As
torneiras sem água não têm musicalidade
tal como
não tem qualidade
formação
sem formadores formados,
formados
formadores sem amor ao trabalho
ou trabalho
com esmola a fingir que é salário.
Falta à saúde
ritmo para caber no poema
se as
receitas são cantigas de escárnio
de
médicos/as com crânio e sem meios.
Diagnósticos,
prognósticos, receios
que não têm
lugar no poema.
Os banhos à
boca da urna,
a simples
mão estendida,
a vida
alheia na berlinda,
a roubalheira
sem freio,
a falta de
compostura,
a vergonha
perdida,
o pontapé
na cultura,
a gentileza
esquecida,
toda a
falta de altura
no poema ficaria feio.
Boca bilingue
a minha solidão come-me.
a minha solidão come-me e mastiga-me e vira-me ao contrário com a língua para me ter melhor.
a minha solidão gosta de me ter bem ( não é apenas ter-me, é ter-me bem) e gosta de dizer-me sua por laços de afinidade patológica.
a minha solidão não me abandona porque a minha solidão é corpo, é mãos, é dedos dos pés: a minha solidão é braços e pernas atados ou sou eu sozinha dentro do meu corpo, a olhar para mim de olhos vermelhos como quem sabe o que sente.
(*Para Pedro, que se tornou o meu grande amor.)
Isis Dias Vieira
A OUTRA
“Intrusa
Aventureira
Oportunista
Amante
Destruidora de lares”
- Fingidos amores
Mantidos
Mesmo carcomidos.
Con/tudo ama
Sofre
Faz feliz.
Compreende
Não reclama
Sorri sempre
Não chora jamais
Pois aprendeu
A se contentar com pouco.
Acostumada
Ao atravessar tormentas
Sabe esperar
Partilhar o amor
Que deveria ser só seu.
Por imaginar
Não ter qualquer direito
Tem sempre o ciúme
A doer-lhe o peito.
Por sentir temporário
O amor que recebe
“Se produz”
Mantendo acesa a chama
A beleza que o seduz.
Ama
Sofre
Compreende
Vive de esperança.
Izabelle Valladares
Gritos
de Mulher
No
cortante silêncio Noturno
Eis
que clamo por diretrizes ao destino.
Destino
este que em tramas se compuseram em nós
Desfez
esperanças ao entregar-me ao oculto
algoz.
As
mãos que antes leves acariciavam o âmago,
Despertaram
a ira que desespera, inflama,
Dor,
raiva, ciúmes, vazio, asco, discórdia
Luta
continua pelas sobras que foram entregues a nada... a lama.
Olhos
quentes, ar que falta,
Dor
que cisma em atingir como a faca,
Mãos
malditas da boca bendita que insisto em amar,
Oh,
quão infeliz fui, em render-me a poda das asas do amor,
E
mergulhar no infinito poço de amarguras que me afogaram o vôo.
Porquês hão de ecoar
no infinito do meu ser...Mas que ser?
O
que sobrou de quem fui eu, se eu só fui
você?
Violência,
porque ? se só lhe dei amor,
Dor
por quê? Sesó lhe dei prazer.
Antes
a paixão explodia medida em rastros,
Hoje Explode em dor, sem argumentos, sem
chances, sem força!
Sangue,
fúria, amor? Como assim amor?
Não
posso chamar-te amor... Assim, chamo-te meu, na ilusão de ter-lhe a posse.
Porque?
Suspiro sem dor, sem pensar em algo mais,
Queria se pudesse, sonhá-lo e refazê-lo,
para que pudesse por apenas um segundo odiá-lo!
Meu
Grito, inaudível, interno, dolorido,
O
ultimo, dilacerando e buscando quem um dia fui,
Amando-te,
perversamente ... amando-te,
Pela
ultima vez respiro,
Exalo
o ar de Minh’ alma.
Te
olho na fresta da pouca luz que ainda me chega
Aos
olhos inchados,
Morrendo,
perversamente... e odiando-me desesperadamente!
Lara Guerra
Alguém
Alguém me chamou “menina crescida”
Alguém me deu o arco-íris para eu brincar
Alguém me deu a face para eu beijar…
Esse alguém trocou a minha tristeza por vida
E…
quando eu já ia a caminhar
alguém me
pisou
E…
deixou ficar caída
Licínia Girão
Mulheres
Somos
sensatas primaveras
Amores-perfeitos
Beija-flores
Gritamos
ao vento que amamos
Acasalamos
enamoradas
Dobramos
cabos de esperança
Abrimos
caminhos em matagais de infernos
Vertemos
lágrimas salgadas de tristeza
Sofremos
em melancolia
Nossos
sentimentos são ousados
são
poesia
Somos
musas de poetas
escritores,
escultores
pintores,
músicos e bailarinos
Entre
lençóis somos magia
No
ventre geramos vidas
Encontramos
flores no deserto
Lançamos
fogo ao mar
para
salvar nossos filhos
Somos
perfume
Companheiras,
amantes
Somos
mulheres
Liliana
Lima
Essa não sou
eu...
Pensavas
que era eu aquela com quem gritaste e gesticulaste e mal disseste e agrediste e
mal trataste?
Ahh,
quão enganado andas tu.
Eu
não era aquela. Eu nem lá estava, lá estive ou estou lá. Ela, a tal que te
olhou com olhos tristes e ainda tentou chegar a ti (erro crasso, estás a anos
luz), essa coitada, como o pinguim do livro
[1]
que já contei vezes sem conta em escolas e escolas e bibliotecas e feiras
cheias de gente, essa ficou completamente desfeita!
Mas
não eu. Eu não estive lá, nem por lá passei. Eu estou aqui inteirinha a olhar
para o pinguim/menina desfeita por todo o mundo. E claro, já sei que sou eu
quem vai palmilhar as estradas e os caminhos e os mares e os céus até a
reconstruir, a menina/pinguim a quem tu gritaste. Irei, como sempre fui. Com
carinho, com paciência, com "uma linha feita de amor e uma agulha feita de
perdão" recolher peça a peça, e depois coser a boneca que se endireitará
novamente, vestida de pinguim.
Ah!
Pensavas que era eu.
Mas
eu há muito que aprendi a estar onde não estou, a ser o que não sou. Não, não
era comigo que gritavas, gesticulavas e magoavas. Era contigo e com a
menina/pinguim que tu imaginas de mim, no mundo onde só tu entras e que só a ti
faz sentido. Acho que aí, desse lado do véu que divide os nossos mundos, apareço
pintada, maquilhada e mascarada (de pinguim).
As
flores acompanharam a minha surdez, as árvores ajudaram à minha indiferença e
até o vento me incentivou a continuar a andar, subindo a rua. Deixei lá a
menina, aquela que se desfaz com os gritos, mas sei que a consigo arranjar -
consigo sempre. É que essa, por mais que eu tente, não se consegue afastar sem
carregar o peso insuportável da culpa, da dúvida, da pena, da tristeza. E por
isso lá fica, ouvindo os gritos que a agridem, e por fim a deixam completamente
desfeita...
Parto
esta noite, logo a seguir ao jantar, levo a linha e a agulha e um cobertor para
a embrulhar. Não sei quando volto, posso demorar, mas no fim voltarei
reconstruída.
Luísa
Demétrio Raposo
UM TEXTO HÚMIDO
O sexo é poesia e todos os recantos de um
corpo são poemas, acendendo-se mutuamente, nas bocas, na perfloração dos poros
em anais que unem-se e dilaceram-se obsessivamente nas avenidas arpoadas do
prazer.
Nos meus poentes olhos, molhando em mim
metáforas e os úteros imortais do sangue ao encontro da carne. Hálitos, em
cima, pulsando, repercutindo-me entre o abandono e a cortesã personagem que por
mim inteligentemente se ia congeminando. O pensar sangrando, irrazoável,
obsessivamente pelas palavras renascidas em cios que gravitavam pelos (meus)
equadores baixos, em ondas que se iam estilhaçando e escorregando pela natural
desordem que é o meu corpo.
Entre
o abandono e a entrança, na linguagem, que existia em cenários, sem gestos, nas
falanges, as perspectivas, o acolhimento, as pálpebras. Gôndolas iluminando-nos
por uma extensiva inspiração, decorrente, nós duas um rio de sangues,
irrigando, irrigando-nos, escutando as palavras assimétricas, descendo húmidas
pelo latejar, nos alambiques orgásticos. A semântica, potente, goza o armado
dentre os lenços vulvares.
Cheira a mar, as mãos remam para possuir a
trilha purpura das águas, ferozes e impacientes entre as queimaduras escarlates
onde se respira depressa. Os verbos estão vivos, abertos e descobertos, que
ardam todos, sobe manete, na mão que implanta o poder de inchar a carne, na
poça em que os dedos se despedaçam e invejam os rastros nas bocas.
Os licores em sementeiras, arregaçam-se.
Acetinados. Marginam, marginam, acetinando entre as vaginas que iam
entardecendo o rejuvenescer. Os sexos, o fogo em arcadas e imolações sobre o
ferocidade, o espargir sonhando mel e no arder a vida a morder-me em toda a
minha húmida carne. A malícia em arco. A largura da minha boca na largura do
charco. No grito indígena, o rasgo é o mundo onde o meu cio acontecia e entrava
num patíbulo, no foder, o ar permissivo. Orvalhando-me, o saibro, as cíclicas
mãos, apalpando dentro em mim memórias, viagens, as outrora fundações de um
outrora pénis profundo, em noites bravas e infinitas a horizonte onde outrora
um Eros retirou um potente e duro tesão.
É amargo, o deserto que a pele concede á
luxuria, a que se ergue e me morde, tropeçando em algures, aqui e acolá,
algures que serpenteiam entre a vagina, gemente.
Odores na revolta, o latejar brunido é um
segredo fêmea, foi sempre, entre os caules húmidos, escondidos na íntima nudez,
no infinito da rosácea, onde se encurvam as mãos e os sexos empolados se
encharcam e abrem irradiações inexplicáveis.
O sol túmido, ardente e longo, é dor enquanto
arde ateando o barro violento e alto das coisas a maravilharem-se. As bocas,
uma só língua, açulada, lambendo, bebendo, sugando os sítios, a saliva que
brota de um solo, panteão.
O texto, a memória costeira da boca em
desequilíbrio, nos círculos nómadas, as cartilagens gemendo para lá das minhas
cisternas interiores onde não se ouvem gritos mas tão-somente um amargo gosto a
lanha e escuridão, na secreta via onde o paraíso vira noite e o sangue a
desmata oblíqua entre a voz rouca que a pronuncia.
A beleza de braços abertos entre o respirar
cru, cíclame, aberto e desperto nu na boca que ferve e que ama toda a matéria
explícita.
Acende-se o meu cheiro, nela, e se evapora
dentro alimentando-me o percurso feminino desde o fundo lago até á minha
faiscante varanda onde juntas pintamos os céus e o amor que ilumina os sentidos
a ir e a vir, nas paisagens escarlates onde o delírio celebra êxtases.
Ah, os seios dela, anelantes disseminando-me
a língua. Os seios dela, gumes, em copas escancaradas, as auréolas bárbaras, na
língua que tremia e no mamilo lambiam, lá onde os dois cumes eram de leite e
cheios de tempestades salgadas.
A
cama, em cada poro, nela os meus órgãos cresciam e as rotações bobeavam as
duplas silhuetas, juntamente, secretamente nos sexos felinos, crepitando-se,
aveludadas, as virilhas repletas de tinteiros e de prosas em sanha, gota a
gota, as duas púbis suadas.
Nas veias, a chama, irrompe, a vertigem,
trilhada, o meu endereço amante, o epicentro do equilíbrio e o desequilíbrio à
nossa volta, a precipitação e a bigorna sem rosto, a cópula.
Abrindo-se em travessias, a vagina
desnivela-se em palavras e prosas, linhas e núcleos, pólvoras, golfadas e
lanços nadando, nadando entre águas minadas, entrando nas duplas ancas
contorcendo o mundo húmido, vibrantes, vibrando, vibrando, vibrando, vibrando,
entre o espaço e os dedos navegadores em debate.
A memória bruta de um naufrágio, a imagem das
suas entranhas esmagando-me.
Seda,
a carne, encostada à página inteira, na escrita que se vai fixando e se vai
fechando a cada onda orgástica, a cada profundo nó, as trevas, o enxofre cai
nas margens, iluminando a ceifa e nós, abertas, nas espasmódicas respirações,
num cais, ateando toda a memória atenta, avassalando nas frases a frase.
O cio a desmoronar-se onde os buracos fervem
e nos abrasando não só a Alma, mas também toda a carne hasta.
Madalena Mendes
Interidentidades e atravessamentos
Olhamos para as
razões femininas/masculinas com o olhar de agregação e de coalescência com que
enxergamos a pluralidade compósita das dimensões (ou idimensões, como diz o
poeta) da vida.
O que queremos
dizer é que para falar de Heloísa temos que falar de Abelardo. Para falar de
Saramago temos que invocar Pilar. Para dizer Blimunda temos que ressuscitar
Baltazar Sete-Sóis das garras escaldantes do Santo Ofício. Para entender a
tessitura do manto de Penélope temos que fazer regressar Ulisses. E para
entender o silêncio platónico do amor temos que repetir a entrega silenciosa de
Dante e Beatriz.
Estamos situados
no campo das inter-identidades e na transmutabilidade das mesmas. É na
capacidade de abandonar o envólucro etnocêntrico em que fomos forjados como
mulher/como homem e no simultâneo conjugar da pluralidade homem/mulher que
reside a possibilidade libertadora de conceber novos mapas emancipatórios.
Amamos, em nós,
feminino-masculino, enquanto potencialidade criadora. Ao ponto de, na obra
criada, se espelhar a migração de um para o outro. Na assunção de que, enquanto
feminino e masculino, não nos anulamos, mas nos reforçamos na nossa existência,
em relação. "L' un est l'
autre", diz Elisabeth Badinter. Pressentimos que o nosso caminhar
conjunto nos pode levar muito longe, nos avanços civilizatórios. Na aposta dos
interconhecimentos. No resgatar das razões silenciadas e anoitecidas. Na
libertação das vozes oprimidas, porque a emancipação da mulher é também a
emancipação do homem. Uma é a outra.
Marcella Reis
UM HOMEM FELIZ...
Um
homem feliz sabe que...
A
mulher é um vento que sopra airoso
A
encher os pulmões do mundo
É
uma joia brilhante que enfeita de riqueza
E
torneia em força os braços masculinos
Um
homem feliz sabe que...
A
mulher é a flor que torna o coração num jardim colorido e
que
perfuma as partes mais quentes do corpo,
[Ah!
O pulso, as orelhas... O antebraço]
É
a nota suave escondida entre as teclas em preto e branco de um piano que franze
e costura a música mais bela para dentro dos ouvidos
Um
homem feliz sabe que...
A
mulher é a generosidade de um ventre que
se
transforma em casa para abrigar um frágil feto
É
o seio que se doa em deleite sem negar o leite ao amado filho
É
o sexo escondido em todo o mistério do seu corpo
como
toda a sua alma complexa e sem complexos
Um
homem feliz reconhece que...
A
mulher é a solene alegria de saber ser triste
A
sua voz é o bico e as asas de um rouxinol
que
acalentam
a face chilreando conselhos que
saem
como uma melodia matinal
A
sua sapiencia é a sensibilidade
Os
seus lábios são travesseiros que abrigam no estalo de um beijo
toda
a sua ternura feminina
A
mulher é barro nobre esculpido pelas mãos fortes do homem
Por
isso, homem, muito cuidado quando quebrares um vaso aparentemente frágil
Pois
dentro dele pode estar uma mulher
e
nela a metade de sua costela
Um
homem só será feliz se compreender a simples verdade de que
A
mulher nasce para brilhar e
o
homem nasce para não deixar que o brilho dela se apague...
Maria Dovigo
Tempo interior
Por alguma razão que me foge,
sinto-me perto da génese das coisas.
O momento da conceção,
a semente a eclodir no escuro,
tu em mim,
no nascer do mundo.
Sou uma adepta da lentidão
e do segredo.
Tenho a consciência plena
da matriz em que tudo é gestado,
lentamente,
secretamente.
Nada nasce antes da hora,
nada nasce da luz,
ainda que por vocação da luz nasça.
O corpo, lugar exíguo
O meu corpo aguarda as aguarelas
dos teus olhos,
sobre telhados, chaminés.
Conto as horas, os dias, os minutos,
a recitar as harmonias improváveis,
pulsando nas estrelas.
Existe relva nas cidades,
existe algum verde nos teus olhos.
Existem pombos.
O teu olhar atravessa-me.
Tudo é sublime
no terno coração do asfalto.
Luísa
Demétrio Raposo
Além
Tejo, 6 De Setembro 2013
A carne trémula o liberta à espera de palato, da língua, da boca atenta, suga-se a carne ora pelas costas ora ela ponta do orifício e lambe-se o alvoroço abertamente escuro
A carne trémula o liberta à espera de palato, da língua, da boca atenta, suga-se a carne ora pelas costas ora ela ponta do orifício e lambe-se o alvoroço abertamente escuro
Neide Baptista
COLETANEA DE POEMAS
DA MENINA DA LUA
1
Na terra da menina
As sementes germinam Saúde e Prosperidade
As águas brotam Amor e Felicidade
Os ventos sopram Paz e Liberdade
E o fogo Aquece e Ilumina a humanidade
2
Nascemos meninas
Crescemos femininas
Somos estrelas que brilham vidas divinas
3
Sob o céu estrelado
A lua vem dizer que ao amanhecer do sol
o desejo da Menina vai acontecer
4
És nova e criança
Crescente uma linda adolescente
Plena eis à mulher
E quando senhora, sabia da sua experiência
Crescente uma linda adolescente
Plena eis à mulher
E quando senhora, sabia da sua experiência
5
Sonhos que encantam
Poderes que transformam
Luz que ilumina
São mistérios de menina
6
Lá na lua mora o sonho de uma menina
Nem os momentos difíceis os fazem minguar
Sua força e coragem a fazem nova para continuar a sonhar
Crescente e belo seu sonho se tornará
E cheio de luz irá brilhar
7
... Então o Uirapuru anunciou
A lua nova iluminou
A menina acreditou
E o sonho se realizou
O meu Poema
O meu poema não nasceu ainda...
O meu poema está na voz das mamanas de macala
Que gritam esganiçadas e derretidas de calor,
O meu poema está nas palmeiras à beira mar...
E no silvo das cobras cuspideiras
Que rastejam na terra escarlate...
O meu poema, o meu poema...
Está no estender de mãos dos mendigos do cais,
Cobertos de feridas e rodeados de moscas...
O meu poema está nos batuques,
E nos tambores que transmitem mensagens ao luar...
O meu poema, o meu poema
Não nasceu ainda...
Está no canto das aves selvagens,
De nomes ainda desconhecidos...
Está no pólen das flores tropicais,
E anda à roda nas voltas da vida...
O meu poema... O meu poema,
Está no apitar dos navios que partem...
No palpitar dos corações...
E no gemer do quissanje misterioso e quente do luar africano...
Um dia o meu poema será cinza...
O meu poema misturar-se-á com a terra...
E dele brotarão as flores mais belas,
E andará em todas as bocas...
O meu poema nascerá então!
Sónia Sultuane
Liberdade
Quero
ser a areia que cobre
Apressada
o corpo desnudo do universo
Quero
assobiar aos pássaros
A
música despida dos ventos
Baloiçar
no luar despreocupado
Fugir
das mãos das árvores pregadas na terra
Soprar
o meu nome escrito na areia quente do deserto
Voar
abraçada nos dedos dos pássaros para bem longe
Sem
deixar marcas ou arrependimentos
Vera Novo Fornelos
Quem
eu era já não sou
Quem
eu era
Já
não sou
E
quem eu sou
Renega
existir
Quem
eu era.
Mas
quem eu era
Deseja
te conhecer
Anseia
preencher
A
solidão aprisionada
No
teu olhar poético.
Mas
quem eu sou
Prefere
nem te ver
Não
quer sequer saber
Da
paixão encarcerada
No
teu espírito inquieto.
Quem
eu era
Já
não sou
E
quem eu sou
Não
pode coexistir
Com
quem eu era.
Comentarios
Publicar un comentario
Muchas gracias por tus palabras. No olvides visitar nuestras otras paginas y correr la voz sobre nuestra labor.